Era indescritível aquela sensação.
Tudo tinha acontecido tão rápido. Eles se conheceram e o
santo já bateu. Começaram conversar e viram que não existia só música em comum
entre eles, que não era só interesse artístico, tinha mais. Ela pensava que era
uma relação extremamente intelectual, tinha encontrado alguém que compartilhava
ideias e ideais parecidos com os seus, uma vontade de ser livre, um potencial
pra ser grande, um desejo de ser único.
Foi um dia, horas de conversa e troca de olhares, o
suficiente para algo nascer. Mesmo sabendo que isso não podia nascer, pois
existiam outros. Mas ardeu.
Ambos sabiam que não deviam, que não podiam, mas por quê?
Por que eles teriam se encontrado se não pudessem sentir isso tudo assim, de
uma vez? Por que eles teriam se trombado, da forma mais inusitada e inesperada?
Para passar em vão? Ela não acreditava nisso. Arriscou, arriscou algo certo
para o resto da vida, sem dó, nem piedade. Não jogou fora, reciclou. Reciclou o
que já não era algo saudável, reutilizou.
Foram beijos, blues e poesia. Foram músicas, declarações e
textos. Foram mensagens com metáforas, foram analogias. Foram toda a literatura
em um dia, foram toda a magia artística de melodias em segundos. Foram amor.
Não aquele amor que dura, aquele amor que surta. Que te faz não pensar, que te
faz fugir, correr e sorrir. Foram suor, foram carinho, foram contato. Sentiram
cada centímetro de pele, a sua, a do outro. A adrenalina, a euforia, a dúvida e
a certeza, o desejo, a carne, a vontade, a pele, o cheiro. O perigo.
E como uma brisa de verão, passou. Não o sentimento, não a
vontade, mas não se tinha mais a verdade. Esperava-se uma amizade eterna, mas
se teve tesão demais para isso. Esperava-se companheirismo, desabafo, mas teve
paixão e ciúme. Tudo o que é bom dura tempo o bastante para se tornar
inesquecível, já dizia o poeta. Porque felicidade assim não dura para sempre.
Amor nenhum é lua de mel eterna. E como as coisas são escritas da forma
correta. Como as coisas são feitas da maneira correta. Elas têm seu início,
meio e fim. Elas têm todas as correntes que se unem, para não faltar um espaço,
para não escapar nada.
E quando elas se fecham, o que resta, o que falta, fica. A
saudade.
Assinado, girassol.
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